A Industria Musical e a Formação Intelectual do Homem
por Arthur Santos Cardoso
"A música tem o poder de formar o caráter e deve, por essa razão, ser introduzida na educação dos jovens. Certos tipos de música, em particular, são mais próprios para essa finalidade, pois geram um efeito moral positivo..."
No dia em que escrevo este texto, assisti uma conversa entre os professores Marcelo Andrade e Gabriel Mazon, qual o link para assistir deixo ao final da página. A conversa em si tinha como tema o caso recente de P. Diddy e a indústria musical. Confesso que o primeiro não me chamou nem um pouco a atenção, até por nem saber do que se tratava o caso até o professor Mazon explicar. De fato, as notícias desse mundo, que tenta imitar Sodoma, e com certeza terá o mesmo fim, não me chamam mais nem um pouco a atenção. Inclusive recomendo a vocês também, evitem ao máximo a contaminação desse mundo devasso e dessa mídia suja. Mas o segundo ponto, a indústria musical, me chamou a atenção, o que me fez dedicar uma hora de meu dia para assistir o vídeo. Nos últimos tempos, venho estudando um pouco de música e o impacto em nossas vidas, e por saber da excelência dos professores, e o tema me interessar, decidi ir em frente.
O caso de P. Diddy não me surpreendeu nem um pouco. Para quem conhece o básico sobre os bastidores da indústria da música, do cinema, e da política norte-americana, sim a política deles é uma indústria, das piores inclusive; sabe quanta sujeira diabólica há naquele fim de mundo. O assunto do qual quero tratar aqui, definitivamente, não é esse caso. Então se procura saber mais sobre ele, recomendo procurar em algum meio de notícias confiável, ou ver o vídeo dos professores.

O assunto sobre o qual desejo tratar aqui é sobre a música, principalmente a indústria musical dos dias de hoje, e seu contraponto, a música de verdade e sua influência na alma humana. Bem, comecemos por aquilo que não é música, e claramente isso que se chama de música pop, e aqui entram outros gêneros como trap, funk, metal etc., não são músicas, são barulho. E quando penso nesses barulhos industrializados, lembro-me de um lugar barulhento e desordenado, o inferno. O maior representante do caos e da desordem é Satanás e seus filhos, quando estudamos a metafísica aos olhos do cristianismo, vemos claramente que Deus é ordem, e tudo que expressa a ordem remete a Deus e eleva a alma a Ele. Os gregos, destaco Platão e Aristóteles, e veja bem que eram pagãos ainda, nos ensinaram muito bem que a música é importantíssima e muito influente na formação do homem. Platão noz diz que “a música é um instrumento mais potente do que qualquer outro, porque o ritmo e a harmonia encontram seu caminho para o interior da alma”.1 E ainda que “quando as formas da música mudam, as leis fundamentais do Estado sempre mudam com elas”.2 É claro, para quem percebe a realidade, que a música influencia diretamente nosso ser, nossos pensamentos, sentimentos, emoções. E como diz Aristóteles, no livro VIII da Política, “a música, por sua capacidade de imitar estados emocionais, pode acalmar ou excitar as paixões. Portanto, deve ser usada de maneira a promover o equilíbrio e a virtude”.3 Ou seja, ela pode ser usada de modo bom, para elevar a alma, e de modo ruim, para perder a alma. E veja que claramente a indústria moderna não produz músicas que elevam a alma, elas não têm ritmo, melodia, e nem a letra em harmonia com algo divino, com algo transcendente; logo são para perder a alma.
Aristóteles, ainda no livro VIII da Política, nos ensina que “a música tem o poder de formar o caráter e deve, por essa razão, ser introduzida na educação dos jovens. Certos tipos de música, em particular, são mais próprios para essa finalidade, pois geram um efeito moral positivo”.4 E o establishment sabe muito bem disso. Os barulhos que ouvem os jovens no dia de hoje têm exatamente esse fim, formar a mentalidade deles. O problema? É uma mentalidade diabólica, que pensa apenas nos prazeres da carne, no dinheiro, na ganância, no orgulho, em tudo que promete uma liberdade nesse mundo para perder a vida no próximo.
Mas embora ela seja tão utilizada para o mau em nossos tempos, ela pode ser utilizada para o bem. Não é à toa que o estudo da música está no Quadrivium, acima da Retórica, da Lógica e da Gramática; para quem quiser saber mais sobre as artes liberais recomendo algumas obras que estarão elencadas ao fim do presente texto. A importância do estudo da boa música é essencial pois nos faz compreender a ordem do universo que Deus criou. A boa música eleva a alma, e não precisamos dedicar uma vida de estudos para entender isso, escute uma boa música nesse momento e verá. Utilize para seu bem a tecnologia que tem a seu alcance. Não falo de ouvir apenas música clássica, erudita, barroca, não! Escute as modas de viola do Tião Carreiro, que como diz o professor Guilherme Freire, “é uma expressão pura e bela da verdade”. Escute uma boa milonga, um samba de boa qualidade, o que de bom encontrar. As músicas boas estão aí, basta apenas procurar, pois ‘coincidentemente’ não querem que nós as escutemos.

Como bom gaúcho, aprecio muito minha tradição cultural. E nossa música, em sua gigantesca maioria, é muito boa. Falo aqui e qualidades objetivas, como a harmonia, a melodia, o ponteio da guitarra e os toques da cordeona, e as belíssimas letras sobre o pampa, o gaúcho e sua amada. Uma milonga bem tocada, uma chamarrita dedicada a amada, que toca no compasso do coração, tem um valor gigantesco. E trato aqui da música gaúcha pois é a que mais conheço, sem dúvida há outros estilos tão bons quanto, como o sertanejo, claro que os antigos, como Sérgio Reis e o próprio Tião. E outros ainda que não tenho tanta autoridade para mencionar. Mas sem dúvida há uma coisa em comum entre todas as boas músicas, sem entrar aqui na música sacra ou erudita, falo das músicas populares, há nelas, além das qualidades naturais de uma boa música, a transmissão de verdades por meio da letra. Sem dúvida a melodia, o ritmo e toda a harmonia da música importam muito, mas para nós leigos, convenhamos, a letra é a de mais fácil intepretação. E há algo de comum entre as letras de todas as boas músicas, elas falam ou de coisas boas, e que por isso no elevam ao divino, como o amor, a mais evidente delas, ou da vida daquela região. Na música gaúcha e a realidade do pampa e da vida na estância. Na música sertaneja a vida simples do interior e a lida com o gado. E tenho certeza que assim será na cultura nordestina, no norte, na Argentina, no Japão, na Espanha e no mundo todo. A verdade é uma só.
Não é apenas por beleza que Tolkien descreve a criação de Arda como uma canção composta por seres divinos, ele o faz pois sabia do poder da música, o poder de moldar a forma e a alma. Santo Agostinho nos ensina muito bem que os sentidos são essenciais para nossa formação, são eles que trazem a realidade do mundo físico para dentro de nossas mentes. No De Musica o Doutor da Graça escreve: “A música, por sua harmonia e ordem, é uma reflexão da harmonia do universo e, em última instância, de Deus.”5 Ela transporta a realidade da criação do mundo sensível para nosso intelecto, e a boa música reflete na ordem do cosmos, e na ordem de Deus, por isso a música tem tão grande poder, pois pode elevar a alma para a contemplação das realidades divinas. Quando entramos na música sacra isso fica muito mais evidente. As realidades da fé que, através de hinos e cânticos, são aprendidas por nós. É a verdade que buscamos, a Verdade é Deus, logo a melhor música é a que nos aproxima de Deus. Então é lógico que quanto mais a música se afasta da verdade, pior ela fica. E tirando as músicas que citei, as poucas de nosso tempo que se salvam, vemos que estamos na pior época da história. Na obra de Tolkien fica evidente isso, é quando Melkor sai da harmonia, que reflete a ordem e a verdade, que o mau surge. O mestre nos ensina que o mau não pode criar, apenas corromper a criação. É o que vemos hoje, e o início dessa queda não é tão recente como vocês imaginam. O canto gregoriano, com todo o humanismo das revoluções a partir do séc. XVI, foi deturpado e deu origem à música clássica e à barroca, que por sua vez foram sendo empobrecidas. Chegando no século XX só vai ladeira abaixo, é do Jazz e do Blues que sai o Rock, e daí uma mistura com uma música popular já muito pobre saí o pop, e o rap e trap, e todas essas coisas barulhentas que não conheço o nome. Com isso quero dizer que a decadência da música vem da decadência da sociedade, assim como na arte, na arquitetura, na literatura etc. O ser humano abandona Deus, e por consequência a ordem, a beleza, o bem, a virtude; ou seja, não se pode esperar boa música de uma sociedade que se afastou de tudo que é bom. Destaco novamente as exceções, falo aqui da música difundida pelo establishment moderno, que só quer enfraquecer o homem para dominá-lo, assim como o diabo o faz.
Arthur Santos Cardoso, 16 de Outubro de 2024.
Vídeo Citado no começo do artigo:
Diddy - o Inferno que é a Indústria da Música! - Gabriel Mazon e Marcelo Andrade
Referências:
I. Platão, República (Livro III)
II. Platão, República (Livro III)
III. Aristóteles, Política (Livro VIII)
IV. Aristóteles, Política (Livro VIII)
V. Santo Agostinho, De Musica (Livro VI)
Bibliografia para estudo:
- Platão, A República. Edipro (2019).
- Platão, As Leis. Edipro (2021).
- Aristóteles, Política. Edipro (2019).
- Santo Agostinho, Sobre a Música. Editora Ecclesiae (2019).
- Papa Bento XVI, O Espírito da Música. Editora Ecclesiae (2017).
- J. R. R. Tolkien, O Silmarillion (Ainulindalë). Harper Collins Brasil (2020).
- Uwe Michael Lang, Sinais do Altíssimo. Editora Ecclesiae (2022).